20 de jan. de 2011

SaaS

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Temos os nerds; e os entreprenerds?

Por que, com tanta gente que "sabe fazer", não há nada "feito no Brasil" na internet mundial?


TODO JANEIRO SÃO Paulo sedia a Campus Party, ajuntamento de milhares de jovens (e alguns nem tanto) que a imprensa conven- cionou rotular de "apaixonados por tecnologia".

"Nerds", diríamos. Espécie de filósofos práticos de uma contemporaneidade movida por hardware e software que proveem a computação, a comunicação e o controle responsáveis por todo o mundo ao nosso redor, de carros e elevadores a sinais de trânsito e exames médicos.

Gente que entende das entranhas dos sistemas que sustentam a economia e a sociedade dos nossos tempos. Já se disse que o futuro será dividido entre alfabetizados digitais e os que, usando tal alfabeto, programam a vida digital.

Uns, meros usuários, leitores talvez capazes de analisar o que roda e existe ao seu redor. Outros, escritores, responsáveis pelas máquinas virtuais (e sociais) que são, cada vez mais, o código executável de nossos tempos. Estes outros são os "nerds", pelo menos em tese a galera que está lá pela Campus Party.

A Campus Party Brasil é a maior do mundo, parte de uma rede internacional de eventos que nasceu na Espanha em 1997 e que acontece por aqui desde 2008. Coisas do Brasil, até porque São Paulo tem tudo (inclusive população e atrações) para fazer eventos de porte monumental sempre que se tente.

Se temos tantos "nerds", tanta gente que entende tanto de tecnologias de informação e comunicação quanto seus pares pelo mundo afora, uma das perguntas que me faço há pelo menos duas décadas é... por que, com tanta gente que "sabe fazer", não há nada "feito no Brasil" na internet mundial? E nem mesmo no Brasil, falando nisso?

Qualquer uma das primeiras versões de sistemas e ambientes como eBay, Amazon, Facebook, Orkut, Twitter e qualquer outro que o leitor imagine poderia ter sido feita no Brasil. E do Brasil para o mundo, por sinal.

Mas nós, como país, somos apenas grandes e apaixonados ""usuários" de tecnologia, como a própria mídia tão bem se acostumou a dizer.

Não estamos conseguindo aproveitar as oportunidades de empreender nosso conhecimento nos mercados mundiais e nem mesmo no Brasil, onde quase a totalidade do que se consome é "made in elsewhere".

Deveríamos ter -ou induzir- tal capacidade? Indubitavelmente, sim. Isso não só geraria em- prego, trabalho e renda aqui, mas estaria contribuindo do lado certo de uma balança comercial que, em tecnologia, nos é amplamente desfavorável.

E mais: software está se tornando serviço em rede e quem não estiver provendo para o planeta estará consumindo de lá, e nós estamos devagar quase parando quando o assunto é SaaS, ""software as a service".

Sem empreender -para o mundo- nossa capacidade de entender e fazer, nos tornamos cada vez mais meros usuários, no máximo ""apaixonados" por tecnologia.

Tivéssemos a capacidade de criar uma legião brasileira de ""entreprenerds", gente que conseguisse empreender conhecimento nas tecnologias de informação e comunicação, associada a uma outra legião que em parte já existe, a dos ""nerds", teríamos muito mais chance de ter empresas e serviços brasileiros, de software ou intensivos em software, no mercado mundial e, por consequência, no Brasil.

Pois quase tudo, em informática, tem a peculiaridade de estar entre as coisas verdadeiramente globais. Pense Google, Skype, Android, Word, Facebook... Nenhum desses sistemas é local; e seu uso global acaba criando, também, os padrões locais de uso e remuneração.

O grande desafio da Campus Party e da miríade de eventos anuais de informática do Brasil, inclusive os da SBC (Sociedade Brasileira de Computação, www.sbc.org.br), não é o de juntar alguns milhares de fanáticos por ciência ou tecnologia em uma área tão crítica para o desenvolvimento nacional e mundial.

É servir de mais um ponto de articulação para uma cadeia de valor que, enquanto não tiver seus próprios ""entreprenerds", estará contribuindo muito menos do que pode e deve para o crescimento do país.

SILVIO MEIRA, 55, fundador do www.portodigital.org e cientista-chefe do www.cesar.org.br, escreve mensalmente nesta coluna.
@srlm
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Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me2001201135.htm
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Publicado em: SinapsesLinks
http://sinapseslinks.blogspot.com/
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Um comentário:

  1. Anônimo23/1/11

    Pois é... "made in elsewhere". Acredito que Silvio Meira resumiu e definiu bem. Nação que não se enxerga como nação; Um montão de gente com carência que a faz querer interagir a todo o instante, mas sem conseguir "alinhavar" um "Norte", que se importa não mais que com os próprios umbigos. E, grave, a espera de um mito para resolver todos seus problemas... Quer na política, na religião, quer "elsewhere".

    Se respeitar ao próximo é visto como uma ameaça à liberdade, então taí um problema: vivemos uma "patologia de massa".

    "Alimentando" essa patologia, POR EXEMPLO, vemos indivíduos ligando seus sons automotivos em volumes gritantes, em qualquer hora do dia ou da noite. Fazem-no por ignorância e por revolta (sem causa!) numa postura agressiva de quem quer chamar atenção sem se importar com o incômodo a quem quer que seja.

    Nós não criamos; Copiamos! E copiamos mal, sem raciocínio útil, sem ideal. Copiamos e nos ligamos a "coisas" efêmeras, fúteis, em uma busca desesperada por uma FRÁGIL SENSAÇÃO DE FELICIDADE que eu chamaria de uma sensação equivocada, por sinal, dadas as possibilidades latentes deste país maravilhoso serem trocadas por tão pouco.

    E aqueles que não compartilham desta visão, se calam; Silenciam, não se ajudam também. É o desrespeito, ao fim e ao cabo, que impera na justa medida de cada localidade; Em São Paulo, o problema é "mega".

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