17 de out. de 2006

52 As Escolhas das Crianças

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As escolhas das crianças
Rosely Sayão

Hoje (15out2006) é comemorado o Dia da Criança.

Quase todos os pais não resistiram à tentação: compraram brinquedos e outros presentes e agendaram programas diferentes para fazer com os filhos.

A reação das crianças não será surpresa para os pais. Muitas delas,
inclusive, já haviam feito seus pedidos com a devida antecedência. E é
justamente para provocar essa reação esperada que os pais sucumbem aos
apelos do comércio. Afinal, quem não quer ver seu filho feliz, agradecido e
Entretido com o novo brinquedo ou a programação familiar especial?

Tudo isso ocorrerá hoje (15out2006), mas os pais também já sabem que essas emoções da criança terão vida curta. Em algumas horas ou dias, o filho estará novamente como estava antes de ganhar os mimos de hoje. Por isso, vamos além neste dia: vamos reservar alguns minutos do nosso tempo para refletir a respeito da infância nos tempos de hoje.

Não é fácil ser criança no mundo atual.

O mundo adulto pressiona o infantil de todos os lados. As peças publicitárias tratam as crianças como se elas fossem gente grande -esperam que saibam e que possam decidir o melhor para si. E o melhor, nesse caso, é consumir o que eles oferecem. Mais do que consumir determinado produto, trata-se de consumir um estilo de viver.

Assim, logo elas aprendem a gostar das músicas que devem gostar, a se
comportarem de um determinado jeito, a vestir certo estilo de roupa etc. As
crianças são tão suscetíveis que, além de se encantar com quase tudo o que
se destina a elas, também ficam atraídas por aquilo que é ofertado ao adulto
e chegam a convencer os pais a consumir itens ou marcas.

Por causa da oferta de consumo, a criança é pressionada a ser de um
determinado modo. E, para ela, isso tem um sentido muito maior do que apenas ter algo. Defender-se desses apelos é coisa para adulto -as crianças estão
totalmente submetidas a essas exigências e não conseguem, sozinhas, escapar.
Mas não é apenas o consumo que empurra as crianças para o mundo adulto. As
notícias, as explicações, as análises, o erotismo, o tipo de humor, a
aparência do corpo, o modo de se relacionar com os outros, a agressividade,
a competição, tudo o que tem relação com os adultos atinge também as
crianças e as influencia.

Não é possível mudar o mundo, pelo menos não em um curto espaço de tempo.

Isso quer dizer que é neste mundo mesmo que as crianças viverão a infância.
Mas talvez seja possível protegê-las da parte mais pesada dessa avalanche. O
mais difícil para os pais é diferenciar o que chegará às crianças
inevitavelmente daquilo que elas ainda podem ser poupadas. Há boas razões
para essa dificuldade, e talvez a principal seja justamente a idéia de
infância que temos hoje.

Qualquer educador -pais, principalmente, mas professores também- acredita
que deve incentivar as crianças a fazer escolhas.

Ocorre que, ao fazer uma escolha, a criança só pensa naquilo que quer de
imediato. Ela ainda não consegue avaliar situações, fazer previsões e
considerar conseqüências. E mais: a criança não é livre para escolher. Ela
está submetida a alguma força, interna ou externa, que a faz caminhar em
determinada direção, e seu campo de visão é restrito.

Por isso, quando ela "escolhe" algo, na verdade apenas se submete a essas
forças, e, quando essa "escolha" é validada pelo adulto, seu aprisionamento
é reafirmado.

Criança só deveria ser livre para brincar e pensar a seu modo. Garantir essa
liberdade de ser criança ainda é possível, mesmo neste mundo.
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"Educar é encher de sentido cada ato da vida cotidiana"
(Paulo Freire)
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Colaboração: Irenita Forster – São Paulo-SP - Brasil
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